O tabagismo é responsável por seis milhões de mortes ao ano em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a estimativa é que o número passe para oito milhões até o ano de 2030 . O dado é alarmante e revela que, em poucos anos, seria capaz de ‘acabar’, por exemplo, com a população de um país com a dimensão da Suíça, que conta com 8.372 milhões de habitantes.
Em todo o planeta existe 1,1 bilhão de fumantes com mais de 15 anos – o que pode indicar que o vício pelo cigarro começa cedo, ainda na adolescência. De acordo com um estudo publicado pela revista científica The Lancet , do Reino Unido, no ano de 2015, ao menos 18,2 milhões de pessoas se renderam ao tabagismo somente no Brasil.
Apesar desse cenário, de 1990 a 2015 – período de 25 anos – houve uma redução no número de fumantes no País. No público masculino, a taxa caiu de 29% para 12%, e no grupo feminino foi de 19% para 8%. O problema, no entanto, é o enorme volume de pessoas que ainda continua viciada em tabaco e as consequências disso à saúde.
O cigarro é composto por cerca de 4,7 mil substâncias químicas, como metais, gases tóxicos e gases cancerígenos. E, apesar da grande quantidade de componentes, a nicotina é a única que leva à dependência, conforme explica a Dra. Andrea Sette, pneumologista do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, em São Paulo.
Por ser uma substância viciante, quem fuma poderá sentir muita dificuldade em combater a vontade de colocar um cigarro na boca. E o problema começa cedo: logo na primeira tragada, os pulmões absorvem a nicotina, que chega ao cérebro em poucos segundos, e causa uma sensação de bem-estar e de prazer. Diante disso, a pessoa fica dependente e, na tentativa de interromper o vício, enfrenta períodos de abstinência e irritabilidade.
Outro problema relacionado ao hábito de fumar cigarro é que desencadeia uma série de doenças . De acordo com a Dra. Andrea, as mais frequentes são as respiratórias, como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) , que atinge por volta de 210 milhões de pessoas em todo mundo, e está diretamente relacionada com enfisema e bronquite crônica. Quem sofre da doença sente dificuldade na respiração por causa do bloqueio do fluxo de ar nos pulmões.
Outra patologia que ganha destaque no assunto é o câncer. Segundo o Ministério da Saúde, 90% dos casos de câncer em fumantes estão relacionados com o pulmão. Mas, é possível, ainda, desenvolver a doença na boca, esôfago, pâncreas, rim, além de outras partes e órgãos do corpo. “Angina, infarto, derrame cerebral também estão relacionados ao fumo”, completa a pneumologista.
Com as gestantes, o cuidado deve ser redobrado. “As grávidas fumantes têm mais chances de parto prematuro, de óbito fetal e de desenvolver bebês que podem nascer com doenças respiratórias”, enfatiza a Dra. Andrea. Diante disso, abandonar o cigarro é essencial para que não haja nenhuma complicação durante a gravidez.
Há diversas maneiras de acabar com o vício. Contudo, cabe a cada fumante escolher o modo que for mais cômodo – e efetivo para si. No entanto, algumas situações chamadas de ‘gatilho’ devem ser deixadas de lado por todos. “A vontade de fumar não dura mais que alguns segundos. Retire o cinzeiro e o isqueiro de perto, distraia a atenção e evite ficar parado. Para ajudar, beba água gelada, coma uma fruta e pratique atividade física”, aconselha a Dra. Andrea.
Outra saída para acabar com o vício, que é recorrente entre os fumante, é recorrer à gravidade do problema e, com isso, ter mais força de vontade e motivação para abandonar, de vez, o tabaco. Exemplo disso é o engenheiro mecânico Reynaldo Zawitoski, de 61 anos, que começou a fumar aos 15. No auge do vício, conta que chegava a fumar três maços por dia – o que corresponde a 60 cigarros diários.
Em 2005, Zawitoski resolveu dar um ponto final nessa história. E o motivo foi mais que especial. Pai de duas meninas, na época com seis e 12 anos, recebeu um pedido de presente, no Dia dos Pais: as filhas queriam que ele parasse de fumar. A solicitação o deixou emocionado e, então, pegou o maço que estava em seu bolso e jogou no lixo de casa. Desse dia em diante, não acendeu mais nenhum cigarro.
Como consequência, o engenheiro tornou-se uma pessoa mais saudável e disposta. “Comecei a sentir melhor o cheiro e o gosto dos alimentos. Pude notar que o meu paladar ficou mais aguçado. Foi uma grande mudança em minha vida”, relembra.
Já para quem não consegue parar sem ajuda, a terapia de reposição de nicotina (TRN) – composta por goma de mascar e adesivo – também é uma opção. O método mais comum é o adesivo. Para utilizar, basta colar na pele, em alguma área sem pelo, que o produto com nicotina irá atuar ao longo de 24 horas, sendo necessário variar as regiões ao longo dos dias. O benefício desse método é que a pessoa fica livre das outras substâncias nocivas à saúde. Com o passar do tempo, as doses diminuem, até que o vício seja abandonado.
Em alguns casos, é viável também recorrer às terapias para auxiliar no tratamento, como a comportamental. Nessa estratégia, conforme explica Luiza Mulin Vaz, psicóloga e mestre em análise do comportamento, “será possível identificar como o hábito de fumar foi adquirido e porque está sendo mantido”.
Muitas vezes, a prática do fumo tem como função gerar prazer e bem-estar. Por outro lado, questões de aceitação social, bem como influência do ambiente, geram esse mau hábito. “Temos que investir em novos repertórios. Uma pessoa pode conseguir a mesma consequência que obtinha fumando ao emitir algum outro comportamento mais saudável”, destaca Luiza.
Nessa medida terapêutica, não há uma fórmula única, ou seja, cada caso deverá ser tratado de maneira individualizada. Com isso, o tempo de abordagem será definido pelo próprio indivíduo e segundo o grau de dependência , além de ser observado se a pessoa faz uso de algum outro método.
Um estudo feito pelo psicólogo espanhol Elisardo Becoña sugere que os tratamentos que utilizam o procedimento comportamental aliado a TRN conseguem de 40% a 50% de abstinência do cigarro em seis meses. Somente com o método farmacológico, o dado cai para 27% , sendo menos eficaz.
No Sistema Único de Saúde (SUS), o paciente tem acesso ao tratamento gratuito de combate ao tabagismo. Além dos métodos já citados, há também a opção a base do medicamento cloridrato de bupropiona, além de sessões em grupo e consultas com psiquiatra. As informações podem ser obtidas em uma das Unidades Básicas de Saúde.
O tabagismo é um problema que preocupa os órgãos públicos e, nesse contexto, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) mostra que parar de fumar gera resultados positivos de maneira rápida. O objetivo é, cada vez mais, diminuir as estatísticas de mortalidade, uma vez que, no Brasil, 200 mil pessoas morrem por ano por conta das consequências das substâncias nocivas à saúde, o que corresponde a 23 pessoas por hora .
Fonte: http://cremepe.org.br/